3º Encontro sobre Abelhas Nativas Sem Ferrão na Região Alto Uruguai do RS
Dando sequência aos encontros regionais sobre abelhas nativas, já tradicionais na Região Alto Uruguai gaúcha, no dia 30 de novembro, estiveram reunidos na Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS Campus Erechim, em torno de 100 pessoas, entre meliponicultores da região, pesquisadores, estudantes e técnicos da área.
O encontro buscou promover a troca de experiências e o aprimoramento de técnicas de manejo de abelhas nativas, reunindo criadores de abelhas que estão iniciando na meliponicultura e também pessoas com grande experiência no manejo e na viabilização econômica desta atividade. Além de dar grande destaque para o diálogo sobre boas práticas no manejo das colmeias e produção de mel, este encontro também apresentou possibilidades de melhorar a viabilidade econômica, com diferentes experiências de empreendedorismo na meliponicultura, agroindústria e legalização do processamento.
O encontro teve três painéis temáticos. O 1º Painel foi conduzido por Marlon Tiago Hladczud, com o tema: “Boas práticas na produção, colheita, armazenamento e comércio dos meles de ANSF”. Marlon é Técnico em Agropecuária e reside em Prudentópolis/PR, também é Técnico em Meio Ambiente, extensionista do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR PR), apicultor e meliponicultor com mais de 20 anos de experiência.
Marlon comentou que no mundo existem em torno de 20.000 espécies de abelhas, sendo que aproximadamente 800 são sociais e mais de 400 delas estão no Brasil. “Apenas uma delas possui ferrão, as outras são todas conhecidas como abelhas nativas ou indígenas, com fácil manejo e mel muito valorizado. Abelhas produzem mel, pólen, própolis, geleia real entre outros derivados e o principal produto delas é a polinização. A criação de abelhas não ocupa muito espaço de terra para ser implantada, além de poder ser consorciada com diversas culturas, trazendo melhorias na produção onde elas estão presentes. Além disso, a presença de abelhas é extremamente importante, pois 80% da vegetação do planeta depende de abelhas para se reproduzirem”, destacou Marlon.
Também foi ressaltado que o mel é um produto nobre e oneroso para as abelhas, então quem cria abelhas deve ter os cuidados necessários para potencializar a colheita, evitar contaminações para manter a alta qualidade deste produto e não desperdiçar, já que os volumes são muitas vezes pequenos, proporcionais ao tamanho das abelhas nativas. Outro aspecto abordado foi o envase, a apresentação das embalagens, o armazenamento e alguns processos de maturação e pasteurização, visando a comercialização e o transporte para locais mais distantes.
O 2º Painel foi conduzido por Thiandra Sangaletti, com o tema “Empreendedorismo na meliponicultora”. Thiandra é Bióloga, pós graduada em Biologia da Conservação da Natureza, com formação em meliponicultura profissional e produz cosméticos naturais e produtos de cuidado com a saúde, sendo proprietária do Meliponário Rainha do Sul.
Em sua apresentação, Thiandra comentou que a meliponicultura é uma atividade terapêutica, saudável e sustentável. Mas, além de ser uma atividade prazerosa e, muitas vezes, estar mais ligada a um hobby, ela pode vir a se tornar uma atividade rentável, transformando-se em uma fonte de renda para o meliponicultor. Ela apresentou diferentes possibilidades de prestação de serviço, produção e comercialização de produtos ligados à meliponicultura.
Alguns dos aspectos importantes do empreendedorismo que foram abordados foram a visão de negócio e inovação no seu segmento, também a importância do planejamento estratégico e de uma gestão eficiente, além da capacitação em marketing e elaboração de estratégias de vendas, sempre mantendo a resiliência e a capacidade de adaptação.
O 3º Painel contou com a apresentação de Carlos Angonese, com o tema “Agroindústria e legalização do processamento”. Carlos é Extensionista da Emater/RS e atua há muitos anos na assessoria para projetos de instalação de unidades de produção de famílias rurais, grupos e municípios. Ele destacou o grande crescimento desta atividade nos últimos anos, fazendo com que a meliponicultora ganhe mais visibilidade na produção de mel.
Angonese falou sobre boas práticas e procedimentos no manejo e colheita, necessários para manter as características originais do mel. Instalações com condições de garantir a qualidade sanitária do produto, com paredes, pisos, tetos, equipamentos e secções exigidas, que facilitem a higienização do ambiente, considerando a recepção, manipulação, envase e expedição. Foram abordados também equipamentos, ferramentas e vestimentas adequadas, além de informações sobre os serviços de inspeção e certificações municipais, estaduais e federal (SIM, SIE e SIF).
Na sequência, os participantes do encontro se dividiram em três grupos. O primeiro realizou uma roda de conversa sobre pasto apícola, aprofundando formas de alimentação complementar para os enxames e trocando experiências sobre o manejo de ANSF.
Os outros dois grupos participaram de oficinas. Uma sobre saboaria artesanal e produção de produtos como cosméticos naturais e de cuidados com a saúde com a utilização de insumos das colmeias (cerúmen, mel, pólen e própolis). E outra oficina que realizou a transferência de um enxame de uma isca para uma caixa racional e também a multiplicação, quando os discos de cria maduros são divididos em duas caixas para ampliar o número de enxames.
O encerramento da atividade foi com um coquetel preparado pelo empreendimento urbano Encontro de Sabores, de Passo Fundo/RS, que integra a Cadeia Produtiva Solidária das Frutas Nativas. Foram preparados diferentes pratos com produtos da biodiversidade nativa gaúcha, como pastel de frango com butiá, croquete, pão e bolacha de pinhão, geleias com mel de abelha jataí, pesto de pinhão, e outros produtos com polpas de frutas nativas, além de suco de butiá e de jabuticaba. Esta atividade contou com o apoio de um projeto de parceria entre o CETAP, a SEMA/RS e a empresa RGE.
As apresentações dos painéis temáticos foram transmitidas ao vivo e estão disponíveis no Canal do Youtube do Cetap – youtube.com/cetapagroecologia.