Tod_s pela equidade de gênero

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Tod_s pela equidade de gênero

Nosso corpo, nossa vida, nossa luta!

De acordo com a divisão sexual do trabalho, aos homens é destinada a esfera produtiva, na qual os trabalhos realizados são valorizados e remunerados (ou geradores de renda) e, às mulheres, é destinada a esfera reprodutiva, em que o trabalho realizado não gera renda e, portanto, não é valorizado. Dois princípios organizam esta forma de divisão social do trabalho: o princípio da separação, que afirma que existem trabalhos de homens e trabalhos de mulheres; e o princípio de hierarquização, a partir do qual o trabalho do homem “vale” mais do que o trabalho de mulher.

Em nossa sociedade, muitas vezes as esferas produtiva e reprodutiva se organizam em espaços diferentes, sendo a esfera reprodutiva o espaço da casa e a esfera produtiva o espaço fora de casa, na qual se realiza o trabalho remunerado (fábrica, escritório, comércio, banco, etc.). Mesmo na agricultura familiar, onde é mais difícil separar o que se produz para vender no mercado ou para o consumo da família, há uma separação entre a roça e o quintal ou entre a casa e o roçado.

Modelo patriarcal de família

No meio rural, o modelo patriarcal de família é bastante marcado e se organiza dentro de uma hierarquia de gênero e geração centrada no poder dos homens sobre as mulheres, filhos e filhas. Na agricultura familiar encontramos frequentemente situações que denotam a prevalência uma visão homogênea da unidade familiar, baseada na ideia de que o homem representa o interesse de todos os seus membros, como se todos tivessem os mesmos interesses. Essa forma de ver o mundo contribui para a desvalorização do papel econômico do trabalho das mulheres na família. Ou seja, é um modelo definido a partir do poder do homem e pela divisão do trabalho.

Quem controla sozinho o dinheiro não costuma consultar, nem escutar todos os membros da família quando vai tomar uma decisão. Quem não tem seu próprio dinheiro tende a obedecer, a se submeter. Ao contrário, quem tem o seu próprio dinheiro pode ser independente, pode definir os rumos da própria vida, alcançar sua autonomia e colocar suas decisões em prática.

Precisamos reconhecer e valorizar todas as formas de trabalho

Para que todas as mulheres tenham autonomia econômica é preciso construir uma sociedade na qual o trabalho – em todas suas formas – seja reconhecido e valorizado. No sistema capitalista, essa é uma luta permanente, que começa dentro da própria família e da comunidade, com a reorganização do trabalho doméstico e de cuidados, para que a responsabilidade por este trabalho seja compartilhada entre homens e mulheres.

Então, promover a autonomia econômica das mulheres, implica em um primeiro momento, compreender como a sobrecarga com a responsabilidade do trabalho doméstico e de cuidados resulta em desigualdade entre mulheres e homens, para que as alternativas postas em prática apontem para a superação da divisão sexual do trabalho.

Muitas feiras agroecológicas são organizadas por grupos de agricultoras, algumas em conjunto com coletivos de consumidores com base em princípios da economia solidária. As agricultoras envolvidas nestes processos atribuem valor e reconhecimento aos produtos que produzem, trazendo para a cidade uma maior variedade de alimentos e encontrando mercado para produtos que elas nem imaginavam que tivessem preço, como nas plantas conhecidas como PANC (plantas alimentícias não convencionais). A valorização dos produtos expressa a valorização de seu trabalho e, por fim, delas mesmas.

A agroecologia e a autonomia econômica das mulheres

Então, para as mulheres do campo, da floresta e das águas a garantia do direito à terra é bandeira de luta central, que cumpre uma dupla missão: primeiro a de romper com as desigualdades da concentração de terra no nosso país, para a produção de alimentos saudáveis; segundo a de superar o machismo e o racismo que desvalorizam e desconsideram o papel exercido pelas mulheres no trabalho produtivo e reprodutivo.

A agroecologia faz parte da vida das mulheres há muito tempo, mesmo antes de usarem esse nome. Elas sempre produziram alimentos saudáveis, sem venenos e adubos químicos, com insumos produzidos na propriedade, utilizando sementes crioulas, com muita diversidade, fazendo troca de alimentos e mudas com as vizinhas, buscando melhoria da qualidade de vida de todas(os).

Acreditamos que a agroecologia pode ser um caminho para envolver toda a sociedade em uma nova forma de pensar sobre o alimento, como resposta à busca por uma vida mais saudável e mais justa, fortalecendo feiras e redes de comercialização que permitam o acesso a alimento livre de veneno e promovam a autonomia econômica das mulheres.


Fonte: Cadernos de debates: desenvolvimento sustentável na perspectiva das mulheres do campo, da floresta e das águas. Publicação da Secretaria de Mulheres Trabalhadoras Rurais Agricultoras Familiares (Contag)


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