Encontro Estadual da Cadeia Produtiva Solidária das Frutas Nativas destaca importantes avanços neste ano
Nos dias 14 e 15 de dezembro, aconteceu o 11º Encontro Estadual da Cadeia Produtiva Solidária das Frutas Nativas do RS (CPSFN), em Passo Fundo. A atividade reuniu 50 representantes de grupos de famílias agricultoras e extrativistas, de agroindústrias e empreendimentos de processamento de frutas nativas, além de entidades de assessoria e assistência técnica produtiva, órgãos governamentais e parceiros na área da comercialização.
A mesa de abertura contou com a presença de Luzia Teixeira, superintendente da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) no RS, Vanessa Tomazeli, da Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura (SEMA RS), Gilmar Vieira, representando a Deputada Federal Maria do Rosário, Ademar de Oliveira, representando a Unisol, Gregory da Rosa, que acompanha o projeto da CPSFN em parceria com a empresa Neo Energia e Ademir Amaral, em nome das organizações de assessoria CETAP, Arede e Centro Ecológico.
Foi destacada a importância deste momento, que reúne os diversos atores envolvidos no processo de planejamento, produção, processamento e comercialização, além do acompanhamento técnico e do órgão ambiental que atua na certificação das áreas de agroflorestas. Um dos diferenciais desta cadeia produtiva é aliar a discussão técnica, com capacitação, desenvolvimento de novos produtos, formulação de estratégias e implementação de ações práticas de valorização, uso e comercialização das frutas nativas.
A Cadeia Produtiva Solidária das Frutas Nativas está organizada em diferentes espaços envolvendo a produção e extrativismo no meio rural, o processamento em agroindústrias e empreendimentos urbanos, entrepostos e dinâmicas de comercialização, assessoria e assistência técnica e também parcerias, especialmente na área da comercialização.
Já no início da organização da Cadeia Produtiva Solidária das Frutas Nativas se levantou como um limite a falta de material genético para ampliar a produção de algumas frutas nativas. Neste último ano, especialmente a partir de um projeto em parceria com a Neo Energia, foi feito um investimento importante no mapeamento, coleta e reprodução de espécies nativas.
As equipes técnicas do CETAP, Arede e Centro Ecológico realizaram, ao longo do ano de 2023, junto com famílias agricultoras, um mapeamento de matrizes de diferentes espécies de frutas nativas, a partir de uma listagem definida no último Encontro Estadual da CPSFN. Estes dados foram catalogados e estão servindo de base para um fichário técnico que está sendo finalizado. Foi destacado o grande potencial econômico das sementes de frutas nativas e a previsão de demanda futura crescente por diferentes projetos de recuperação ambiental.
A partir deste mapeamento, estão sendo realizadas coletas de sementes para a produção de mudas e o acompanhamento do desenvolvimento destas matrizes para ampliar a base de informações. Também faz parte do projeto a estruturação de 20 viveiros artesanais, distribuídos em diferentes regiões do estado, buscando dinamizar e garantir o acesso à mudas de qualidade. Um destes viveiros está localizado em Passo Fundo, junto à sede do CETAP, com o objetivo de facilitar os fluxos de materiais genéticos, aproveitando as rotas de comercialização do Encontro de Sabores também para a distribuição de sementes e mudas.
A cadeia tem hoje aproximadamente 360 famílias agricultoras envolvidas, em diferentes intensidades. Os produtos das frutas nativas são processados em três agroindústrias e comercializados a partir de seis empreendimentos, sendo eles: Agroindústria Yatai, Ecobutiá, Econativa, Encontro de Sabores, Pano da Terra e Agroindústria Morro Azul. Uma das ações desenvolvidas neste ano foi um estudo sobre os fluxos de comercialização da cadeia, buscando aprimorar as rotas de distribuição dos produtos e o planejamento das coletas e entregas entre os diferentes atores.
O primeiro dia do Encontro Estadual finalizou com três oficinas. Uma organizada pelo GT Comercialização que abordou as dinâmicas e fluxos atuais, novas possibilidades a partir de programas governamentais e também orientações comuns para a comercialização. Outra oficina foi sobre a produção de mudas de butiá, abordando aspectos importantes sobre a germinação das sementes, viveirismo artesanal e a produção da fruta. A terceira oficina foi sobre saboaria artesanal, destacando o grande potencial dos cosméticos naturais e como esta área se relaciona com a sociobiodiversidade nativa.
Na manhã de sexta-feira aconteceu um painel sobre o contexto atual, possibilidades e perspectivas da CPSFN para o próximo ano. Foi abordado como a conservação ambiental dialoga com a proposta sócio organizativa da CPSFN. Dando destaque para a política desenvolvida no Rio Grande do Sul para os projetos de Reposição Florestal Obrigatória (RFO), que possibilita a parceria da cadeia solidária com empresas. No debate foi destacado que é necessário fortalecer o acompanhamento das famílias já envolvidas, buscando ampliar este entendimento junto aos órgãos públicos e as empresas que desenvolvem projetos em parceria. Outro tema abordado foi a relação entre os diferentes atores, especialmente destacando a característica produtiva e de comercialização desta cadeia.
Entre os desafios e encaminhamentos apontados para o planejamento das ações estão fortalecer o que já foi feito, mantendo as famílias agricultoras envolvidas para garantir a continuidade do processo; estabelecer parcerias estratégicas para ampliar a rede de comercialização e ampliar o volume comercializado, ganhando escala; desenvolver um planejamento de marketing e publicidade para destacar os diferenciais dos produtos da CPSFN, fortalecer a marca e ampliar mercado; ampliar e otimizar toda a estrutura da cadeia, desde a coleta e armazenamento de sementes e mudas, o processamento de produtos, o armazenamento e os entrepostos de comercialização.
Durante o encontro foi ainda aprovado o ingresso de três novos integrantes na CPSFN, sendo a Ervateira Gerações (Ipê/RS), Saboaria Mandinga Pura (Viamão/RS) e Erva Doce Cozinha Afetiva (Porto Alegre/RS). A coordenação estadual da cadeia foi reconduzida para o período de mais um ano. A avaliação do encontro foi bastante positiva, destacando a diversidade de atores e produtos presente na cadeia, ampliando sua complexidade e potencializando sua capacidade produtiva e de comercialização.